O que é cultural tem história, e
essa história pode estar sendo recente de tal maneira que o se faz hoje e agora
pode pôr em xeque seu desenvolvimento e até mesmo existência. O ano de 2016, sobretudo aqui no Rio de Janeiro, está sendo de
expectativas, mas também de discordâncias e conflitos sobre as Olimpíadas. O
tema esporte está sendo bastante comentado.
Esporte é
entendido como uma prática de alguma atividade que passou por um veredito para
dizer se tem legitimidade enquanto normas, logo precisa de um enquadramento,
limitação, que pode invisibilizar décadas e até mesmo séculos de história. Isso
contraria toda liberdade, desenvoltura e resistência da Capoeira.
A partir dessa
grande problemática, foi feita, no dia 11/03/2016, na UFRRJ_IM, pelo Grupo de Pesquisa Patrimônio Imaterial Cultural Afro-Brasileiro (GPPICAfro), em parceria com o PET Conexões de Saberes, uma roda de
conversa sobre a Mobilização Nacional contra a Esportivação da Capoeira
contando com a participação do Paulo
Henrique Menezes da Silva – mestre de capoeira, pesquisador convidado do
Laboratório de Etnografia e Estudos e Comunicação, Cultura e Cognição
(LEECCC/UFF), membro do Grupo de trabalho da Salvaguarda da Capoeira do
Instituto do Patrimônio Artístico Nacional, Conselheiro Nacional de Política
Cultural Imaterial, presidente da Liga Gonçalense de Capoeira, vice-presidente
da Associação de Capoeira Filhos do Kikongo, criador do Berimblog e da Radio
Capoeira –, Celinalda Mesquita Santana – professora da rede estadual de ensino
do Rio de Janeiro e rede municipal de São Gonçalo, especialista em
Administração e planejamento da educação (UERJ), professora de Capoeira (A.C.
ANGONAL), diretora pedagógica da Liga Gonçalense de Capoeira, membro da Rede
Nacional de Ação pela Capoeira –, e Nielson da Rosa Bezerra, estudioso da
diáspora africana na Baixada Fluminense.
Com a fala dos convidados ficou
evidente que precisamos de um posicionamento
político sobre a temática, pois as leis e diretrizes devem passar por debate e não ser
impostas à comunidade que, como Celinalda afirma, é desconsiderada desse diálogo.
Outro ponto interessante que ela ressaltou foi a Capoeira enquanto existência prática, há um
cotidiano de pessoas que vivem a partir dela, e embora as políticas culturais
estejam ausentes, exista um "vazio de equipamento", "o
mestre chega lá".
Mestre Carlão
começou sua fala fazendo ressalva à conquista obtida pelo reconhecimento
simbólico da Lei nº 5577, de 20 de novembro de 2009:
A Posse do Conselho de Mestres de Capoeira pode no vídeo abaixo.
Ele reintegra: “o Estado não faz”, então "o mestre de
capoeira precisa apropriar".
O terceiro e último convidado foi
Nielson da Rosa Bezerra, que chamou a atenção para o emponderando dos mestres, para que eles mantenham a reivindicação
de seus diretos e reconhecimentos. Também fez uma paralelo dos conhecimentos da
capoeira e dos conhecimentos escolares/acadêmicos quando observou que um mestre
de capoeira leva em torno de 20 anos para se formar, o que é um tempo de vida,
e ser “reconhecido” da maneira como estão querendo (como modalidade esportiva)
“empobrece a escolarização da capoeira”, além de tentarem delimitar o que é.
Concluiu dizendo: "é muito mais amplo do que isso", a
questão "não é contra o esporte, mas, sim, dizer que é só isso".
Para assinar o abaixo-assinado
contra a aprovação da Capoeira enquanto
modalidade esportiva, clique aqui.
Por: Camila Domingues
Fonte: GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, Lei 5577/09 | Lei nº 5577, de 20 de novembro de 2009: <http://gov-rj.jusbrasil.com.br/legislacao/820300/lei-5577-09>. Acesso em 19/03/2016.