No dia 30 de abril, dia da Baixada Fluminense, realizamos a Roda de Conversa A Universidade no Terreiro: Saberes e memória da Religiosidade Afro-Brasileira na Baixada Fluminense com a Yalorixá Mãe Beata de Iemanjá. A atividade foi realizada no próprio terreiro Ilê Omiojuaro, que fica em Miguel Couto, na cidade de Nova Iguaçu.
Foi com muita alegria que participamos dessa atividade, que
possibilitou, para muitos, desmistificar a visão negativa que é comumente
construída do que é um terreiro. Descobrimos que o terreiro também é um espaço
de multiculturalidade e de política. “A religião não pode se desassociar à
política. Isso que nós estamos fazendo aqui é uma política cultural” (Mãe
Beata).
Fomos recebidos pelo Babaebé da comunidade (pai da comunidde, que tem a função de pensar como conduzir as discussões dentro do terreiro), que faz uma introdução e nos apresenta a Mãe Beata com
muito carinho.
As religiões de matriz africana são originárias do continente
africano, mas são resignificadas aqui, no Brasil. A vivência no terreiro proporciona uma rica experiência
cultural, desde a culinária ao conhecimento sobre ervas medicinais. Inclusive a
Mãe Beata fala um pouco sobre o convite que recebeu para passar esse conhecimento que ela
tem - por ter sido escolhida para transmiti-lo dentro da visão de mundo Iorubá
- para médicos.
Mãe Beata de Iemanjá é Yalorixá (sacerdotisa suprema dos
candomblés de origem Ketu-iorubá), escritora, artesã, griot (tem a função de
transmitir as histórias, canções e conhecimentos de seu povo), desenvolve
trabalhos relacionados à defesa e preservação do meio ambiente, aos direitos
humanos, à educação, saúde, combate ao sexismo e ao racismo.
Ela critica a visão preconceituosa, europeia, sobre o Candomblé,
que muitas vezes é chamado de seita, mas na verdade é uma religião; e também
sobre Exu, que é um orixá. A imagem das religiões de matriz africana foi
construída com base no medo e até hoje essa visão é predominante entre os
leigos. Mas felizmente sabemos que a situação é reversível, quando se reconhece
o preconceito fica mais fácil desconstruí-lo, buscando conhecimento.
“Me chame de negra, é para
isto que estou aqui. Não me chame de morena, nem de mulata, nem de sapoti. Eu
sei que sou gostosa, eu sou linda, meus olhos brilham, agora mesmo quando eu te
vi. Ai que coisa gostosa quando eu digo isso! Meus parentes vieram da África e eu
nasci no Brasil. Sou do Candomblé, religião dos Orixás. Os Orixás mudaram meu
nome porque viram que eu era capaz. Hoje em dia me conhecem como Beata de
Iemanjá. Discuto, falo, cada vez eu quero mais! Defendo o meu povo, para isto
eu sou capaz! Mulheres, me deem a mão, os homens, cheguem para cá. Vocês também
são nossos pares, venham nos ajudar! No momento da nossa defesa, apartheid para
nós jamais!" (Mãe Beata)